sexta-feira, 31 de julho de 2009

Saudosa Maloca


João Gilberto
Composição: Adoniran Barbosa

Se o senhor não "tá" lembrado

Dá licença de "contá"
Que aqui onde agora est
áEste edifício "arto"Era uma casa "véia"
Um palacete assobradado
Foi aquí, seu moço, que eu, Mato Grosso e o Joca"Construímo" nossa maloca

Mas, um dia, "nóis" nem pode se "alembrá"
Veio os "home" co'as "ferramenta"
O dono "mandô derrubá"
"Peguemo" todas nossas coisa'

E "fomo" pro meio da rua"Apreciá" a demolição
Que tristeza que "nóis sentia"

Cada "táuba" que caía
Doía no coração
Mato Grosso quis "gritá"
Mas em cima eu falei
Os "home" tá co'a razão"Nóis arranja" outro "lugá"
Só se "conformemo"Quando o Joca falou
"Deus dá o frio conforme o 'cobertô'"
E hoje "nóis pega as páia"
Na grama do jardim
E pra "isquecê" "nóis"
"cantemo" assim
Saudosa maloca, maloca querida

Dim dim donde "nóis" "passemo" os'dias feliz de "nossas vida"
Saudosa maloca, maloca querida
Dim dim donde "nóis" "passemo" os'dias feliz de "nossas vida"

quarta-feira, 22 de julho de 2009


A Borboleta Azul


No alegre sol de então

De uma manhã de amor,

A borboleta solta no fulgor

Da luz, lembrava um leve coração.

Ia e vinha e a voar

Gentil e trêfega, azul,

Sonoramente a percorrer pelo ar,

Como um silfo tenuíssimo e taful.


Sobre os frescos rosaisPousava débil, sutil,

Doirando tudo de um risonho abril

Feito de beijos e de madrigais.


Que doce embriaguez

O vôo assim seguir

Da borboleta azul

,correndo, a vir

Do espaço pela Etérea candidez!


Fazendo, tal e qual,

O mesmo giro assim,

O mesmo vôo límpido, sem fim,

Nos mundos virgens de qualquer ideal.


Ir como ela tambémEm busca das loucas

E tropicais e fulgidas manhãs

Cheias de colibris e sol, além...


Ir com ela na luz

De mundos através,

Sem abrolhos nas mãos, cardos nos pés,

Ó alma, minha, que alegria a flux!...


No alegre sol de então

De uma manhã de amor

A borboleta solta no fulgor

Da luz, lembrava um leve coração.
(Cruz e Sousa)
















sexta-feira, 10 de julho de 2009

Via Láctea






"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,


Que, para ouvi-las, muita vez desperto


E abro as janelas, pálido de espanto...




E conversamos toda a noite, enquanto


A via láctea, como um pálio aberto,


Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,


Inda as procuro pelo céu deserto.




Direis agora! "Tresloucado amigo!


Que conversas com elas? Que sentido


Tem o que dizem, quando estão contigo?


"E eu vos direi: "Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido


Capaz de ouvir e de entender estrelas".






Olavo Bilac